sexta-feira, 19 de junho de 2009

A DULCÍSSIMA ESPERA



Mulher nasceu para esperar. Não, essa não é uma opinião inventada por um machista para que elas se sintam diminuídas; aliás, que mal há em esperar? Elas simplesmente foram feitas para isso, está marcado a ferro e fogo no DNA de todas nós, o que não é razão para ficar triste, querer mudar a rotação do planeta nem queimar os relógios para provar que somos iguais aos homens porque não somos.

As mulheres já nascem esperando pelo dia em que alguma coisa vai acontecer, como, por exemplo, casar de véu e grinalda. Os homens, não; eles vão levando, pegando o que aparecer - em todos os sentidos - e sem pensar muito no futuro. Você algum dia ouviu falar de algum homem que tenha sonhado com o dia em que encontraria sua princesa encantada? É claro que não. Já as mulheres, todas elas, sonham com seu príncipe - que não chamam de príncipe, claro, pois seria de uma antigüidade atroz -, mas com um homem. O homem de sua vida. Passam-se os anos e elas continuam esperando; as solteiras, as viúvas, as desquitadas e as casadas.

O homem da vida de uma mulher nunca é o atual: é sempre o que elas esperam encontrar, com características tão fantásticas que só mesmo nos sonhos podem ser encontradas. Enquanto isso não acontece, elas vão levando: trabalham, se casam, têm filhos e continuam esperando o momento do Grande Encontro - com maiúscula e tudo.
Algumas são mais impacientes e tentam atropelar, mas dificilmente escapam de esperar por um telefonema - ou um e-mail, as mais modernas. Essas, as mais modernas, nunca passaram pela emoção de esperar uma carta e esta um dia chegar. Aquela de duas ou três páginas bem dobradas, escrita à mão, que a gente lia com o coração batendo e levava para onde fosse. E muitas vezes, quando sozinha num café ou num restaurante, tirava da bolsa e lia de novo até saber de cor certos trechos. Quanta emoção, meu Deus.

As mulheres esperam na praia que os barcos de pesca cheguem trazendo seus homens, e os livros falam daquelas que esperavam pelos embarcados - os marinheiros. Pense no que devia ser esperar durante meses por um navio, e quando ele aparecia lá longe, apitando, no horizonte. É bonito, o som do apito de um navio. Os imigrantes - homens - iam tentar a vida em outro continente e mandavam vir suas mulheres seis, sete, dez anos depois, quando a vida já estava mais ou menos arrumada. E as mulheres sempre esperaram por seus homens que haviam ido para a guerra.

Mas hoje, por quanto tempo uma mulher esperaria? Elas ainda esperam, sim, mas por um tempo curto. Tão curto que quando eles chegam - se chegam - a alegria é aguada, pífia; o tempo da espera valorizava as emoções que se sentia depois. Emoção - um artigo muito em falta nos dias de hoje. Ok, alguns homens esperam por suas mulheres, as executivas que vão para São Paulo de tailleur e pasta. Esperam, mas em termos. Enquanto o homem espera, a vida continua; eles vêem o futebol, saem para tomar um chope, olham para as mulheres que passam e dizem uma gracinha, e quando elas chegam, ótimo.

Para uma mulher que espera, a vida pára. Ela não acha graça em nada, e se sair para fingir que é capaz de se distrair - ou para parecer que -, está ligada nele; terá ele telefonado? Terá chegado? Ah, que bom, se ligou e não a encontrou. Esse é o grande problema entre mulher e homem. Elas só pensam neles; já eles, não. E aí, fica difícil. Mulher foi feita para esperar, começando pelos filhos. São nove meses esperando, e nada, rigorosamente nada pode ser feito para abreviar esse tempo. Não é que elas sejam resignadas; apenas é assim, tem sido assim desde que o mundo é mundo. E vai continuar sendo. O tempo vai passar, tudo vai ficar cada vez mais moderno e a mulher vai estar sempre esperando que um dia alguma coisa aconteça e ela se transforme na pessoa mais feliz do mundo.

E sabe por quê? Porque mulher nunca perde a esperança. Não todas: algumas tomaram muito cedo a decisão de não esperar por mais nada, muito menos por um homem, seja ele quem for. É, digamos assim, uma questão de atitude, palavra muito em voga nos dias de hoje. Uma pena: elas não sabem o que estão perdendo. E tomando a liberdade de ser um pouquinho romântica: ir para o cais e ver o navio atracar depois de meses de espera e ele descer correndo para dar aquele abraço forte, bem forte, devia ser a coisa melhor do mundo. Do mundo.

Danusa Leão

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