sábado, 29 de janeiro de 2011

Encontro com o passado - Que bom não ter mais nada a ver com ele.

"Nem sempre o passado provoca nostalgia. Às vezes, dar de cara com ele só traz alívio.

O sujeito está lá, feliz com a sua vida, quando recebe pela internet a foto de uma ex de olhos siderados, copo na mão, enroscada num cara no meio da balada. Ao ver as formas e o rosto conhecido, ele instantaneamente leva a mão à boca, num gesto de susto e autocomiseração.

Mas isso dura menos de um segundo.

É tempo suficiente para ele lembrar que não tem mais nada a ver com aquilo - que aquele furacão de álcool e extravagância já não é mais da conta dele.

Com um suspiro de gratidão indefinida, ele observa a imagem na tela enquanto lembra que a moça, embora linda e arrebatadora, era uma dor de cabeça que não dói mais nele.

Quem é capaz de se identificar com essa história?

Eu sou. E acho que muitos serão.

Cada um de nós já teve experiências de convívio carregadas de ambiguidade. Você gosta da pessoa, às vezes ama, mas, junto com as coisas que você deseja ou admira nela, percebe traços de personalidade, manias ou comportamentos que são simplesmente insuportáveis. É bom livrar-se deles, embora não seja gostoso separar-se do que você ama nas pessoas.

Eu, por exemplo, não suporto gente intolerante, arrogante, belicosa. Mas já convivi com isso bem de perto, numa pessoa que tinha qualidades admiráveis. Foi traumatizante. Desde que essa relação acabou, faço questão de acordar ao lado de gente com menos certezas e pedras na mão. Tem sido bom assim.

Com as mulheres acredito que acontece o mesmo.

Uma delas me dizia outro dia como foi chegar na casa de um amigo e dar de cara com o ex- namorado embriagado se comportando como um escroto na frente da nova namorada – exatamente como fazia com ela. “Deu raiva dele, deu pena da garota, mas a alegria de estar livre daquilo foi bem maior”, me disse a amiga.

Nem sempre é assim tão claro.

Às vezes o que está errado numa pessoa é como certos barulhos no carro que vão e voltam. Algo está lá, incomodando, mas você não consegue perceber o quê, exatamente. Apenas meses ou anos depois, já na condição de amigo, ou pelo menos de ex, fica claro, repentinamente claro, qual era a origem do ruído.

Você olha para a aquela mulher encantadora e falante e percebe a crônica incapacidade dela em se mover em qualquer direção.

Ou então se dá conta da tristeza, quase depressão, que emana dela e que pairava sobre a relação de vocês como uma névoa.

Ou então nota, por trás da polidez, a insistência dela em falar de si mesma, como se ninguém mais importasse.

Ou a frequência exasperante com que ela menciona fulano, um antecessor que já era antigo ao seu tempo, mas que parece não ter sido esquecido.

Nessas ocasiões, a gente entende por que acabou, por que não deu certo, por que não tinha de ser.

O tempo ajuda a perceber sutilezas. Ele nos ajuda a ver através das pessoas e raramente o mito delas resiste a esse olhar objetivo e desapaixonado.

É bom que seja assim.

Se o seu ex era um controlador ególatra ou um quarentão indolente que precisa de mãe, é importante perceber. Ajuda a olhar para frente. Faz com que a vida ande. Permite entender que as coisas que aconteceram no passado tinham lá seus motivos.

Permite olhar para a foto da ex na internet e dar uma boa gargalhada - sem o menor sentimento de perda."

(Ivan Martins escreve às quartas-feiras na revista Época)

Já namorei um quarentão indolente do tipo filhinho da mamãe e um controlador ególatra que tinha um tique esquisito de fazer uns ruídos estranhos com a boca... Uffa!!! Olho pra trás e sinto um baita alívio!!!
PS: Amo as quarta-feiras... Amo o Ivan por sua clareza e genialidade no uso das palavras.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Era uma vez...

...um sapo que pertencia a uma sapa... ou seria uma sapa que pertencia ao sapo??? Não sei, não importa... O importante é que eles pertenciam um ao outro, um ao mundo do outro.

E, mais importante ainda, eles se conheciam profundamente, se entendiam na maior parte do tempo, e, mesmo que duvidassem, eram almas-gêmeas-batráquias.

O problema surgia quando o sapo cismava em se transformar em príncipe...Aí ele enlouquecia!!!

O sapo chegou até a matricular-se certa vez em uma escola preparatória para príncipes, esforçou-se muito, tentou ter hábitos refinados, falar com voz de príncipe para que pudesse conquistar princesas...

Aliás, ele sonhava um dia encontrar uma princesa que o beijasse e o transformasse em um príncipe para sempre, fazendo com que ele se desligasse do seu passado sapístico, abrindo-lhe assim a porta da felicidade plena eterna e absoluta.

Mas, ao apagar das luzes, na escola preparatória para príncipes, o sapo sentia-se só, sentia muita falta de coachar alto, dos hábitos nada refinados que podia compartilhar com a sua sapa, sentia falta do lodo do seu lago, de jogar a lingua para fora para capturar moscas distraídas...

Sua essência era sapística. Ele nasceu sapo, cresceu sapo, aprendeu coisas de sapo, e a sua companheira sapa não se importava que ele fosse um sapo... afinal de contas, ela também era uma sapa.

Mas... o sapo vivia assim, loucamente perdido entre o desejo de se transformar em príncipe e a saudade da vida de sapo. Transitando entre dois mundos tão distintintos, tão distantes...

Vivia cheio de dúvidas e questionamentos: existe felicidade eterna e absoluta??? Como seria minha vida sem os cuidados da minha rechonchuda sapa ??? Quem engraxaria meus sapatos ou lavaria as minhas cuecas sujas??? A minha sapa faz isso tão devotadamente... A vida longe da lagoa não é assim tão tranquila, há riscos, requer esforço.

Assim, sempre que a saudade da vida de sapo era muito forte o sapo voltava para a casa, e a sua sapa o recebia com seus braços gordos abertos em seu nicho coberto de limo, com mosquinhas frescas para o jantar.

Quando o sapo se cansava da lagoa lodenta e desejava imprimir um pouco de cor e sonhos à sua vida, voltava a nutrir seu desejo de ser príncipe.

A sapa, apesar de repulsiva e desleixada, era paciente e dedicada ao sapo e sempre esperava ansiosa que ele abandonasse os seus devaneios de realeza. E o sapo, por sua vez, apreciava a dedicação e o cuidado maternal da sapa para com suas nescessidades.

A verdade é que ao lado da sua sapa o seu mundo era mais seguro e confortável... e principalmente previsível.

Mas, como todos nós sabemos, nem sempre é possível transitar "ad eternum" entre dois mundos... E, assim sendo, o sapo foi excluído definitivamente da escola de príncipes e voltou para a sua lagoa e para os cuidados, maternais, da sua dedicada e zelosa sapa.

E assim viveram, como deveriam viver, para sempre...

Moral da história??? Ahhhh são muitas!!!

1º) Por mais que deseje, jamais poderá ter o melhor dos dois mundos;

2º)Nem sempre as histórias precisam ser de príncipes e princesas. Sapos também tem boas histórias;

3º) "E viveram felizes para sempre", simplesmente não cabe em histórias reais. As pessoas vivem como deveriam viver, no mundinho para o qual foram talhadas... E não há nada de errado nisso;

4º) A vida torna-se muito mais leve quando percebemos que não existem beijos mágicos, palavras de encantamento ou desencantamento... e que a chave da nossa felicidade está em nossas mãos;

5º) Se você tem essência de sapo, conforme-se: uma vez sapo, " forevermente" sapo;

6º) Para um sapo, por mais perfumado e acolhedor que seja o colo de uma princesa, o lugar mais seguro sempre será nos braços rechonchudos de uma sapa sem muitas ambições ou vaidades;

7º) Mais importante que ser sapo, sapa, príncipe ou princesa, é descobrir quem verdadeiramente somos.


Como bem disse Fernando Pessoa: "Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim".

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Se até os pokemons evoluem...

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Por que aquele cara não???

Quando tal constatação diz respeito a um ex namorado ou ex marido, nos damos conta que aquele sujeito não era, nem remotamente, alguém com quem gostariamos de passar o resto de nossa vida.

Mas ainda assim é triste constatar que a terra girou, girou, girou... e o tal sujeito não viu porque vive de escapismos, devido a grande dificuldade que tem em lidar com a mediocridade que é a sua realidade, pulando de fantasia em fantasia, em seu mundinho virtual cuidadosamente concebido.

É incrível como o amor de 10, 5 ou até mesmo de 2anos atrás pode parecer incompreensível agora. É como um vestido que não serve mais, por ser curto demais, raso demais, desbotado demais...

Lí certa vez que, as grandes relações amorosas, pela sua intensidade e singularidade, e pelos sinais indeléveis que deixam em cada um de nós, funcionam como uma espécie de carbono 14 existencial, pois é com base nelas que voltamos no tempo e percebemos como estavamos de verdade e às quantas andava a nossa cabeça.

É quando me questiono: quem eu era quando me achava envolvida com aquele cara??? Na verdade não sei quem eu era, mas posso garantir que evoluí.

E é partir dessas considerações que me alegro ao perceber quantas coisas novas, quantos lugares novos e quantas caras novas entraram na minha vida nos últimos tempos.

Como bem escreveu outro dia um jornalista em sua coluna semanal: "é como reencarnar em vida..."

E a cada reencarnação em vida, a cada recomeço, eu me permito agregar mais gente realmente interessante, conhecer novos lugares, descobrir novos interesses, reciclar convicções, sempre com a certeza de que "o melhor da vida vai começar."