quinta-feira, 31 de março de 2011

Montanhas Dolomites - Dobbiaco


"Para saber quem somos, basta que se observe o que fizemos da nossa vida. Os fatos revelam tudo, as atitudes confirmam. O que você diz - com todo respeito - é apenas o que você diz. "

Martha Medeiros
Foto by Ellen

Cartinha de uma Cliente Arezzo

Princesas, adorei essa cartinha pois é um exemplo de cidadania.



"Querida Arezzo,

Eu sempre fui uma boa cliente para você. Apesar das vendedoras
esnobes, dos preços absurdos e das campanhas publicitárias cafonas, eu
sabia que valia a pena comprar os seus sapatinhos.

Ao longo de todos esses anos, foram pelo menos umas 20 sapatilhas,
mais scarpins e sandálias e até uma rasteirinha – a única que eu
tenho, imagine, logo eu que não uso rasteirinha! Tudo bem, eu sei que
não é muito e que tem gente que compra bem mais que eu, mas eu sou uma
jornalista pobrinha; se levar em consideração a despesa em relação ao
salário, olha, eu fui muito legal com você.

Aí um dia, eu comprei aquele scarpin de “couro” (cof, cof) preto.
Salto alto. Plataforma. Eu fico com mais de 1,80m com ele, Arezzo! Tão
bonito, tão confortável. Como (quase) tudo que você faz.

Justamente por ele me deixar tão alta, usei pouco; guardei essa
preciosidade de R$ 270,00 para ocasiões especiais – principalmente
quando elas envolviam também o uso do meu vestidinho lindo da Saad.

Comprei o pequenino há dois anos. Usei cinco vezes, e poderia citar
todas elas aqui. Durante todo esse tempo, ele ficou guardado no
saquinho dele, na caixinha dele. Como muitos outros sapatos lindos que
eu tenho, sabe?

Mas tem uma diferença entre os meus sapatos lindos e o seu scarpin.
Sabe qual? Eles não se desmancharam. Pois é, Arezzo. Você sai por aí
vendendo sapatos que são supostamente de couro (afinal, por esse
preço!) e, depois de serem usados cinco vezes, eles desmancham,
revelando um tecido vagabundo pintado de tinta texturizada para imitar
couro. O sapateiro riu de mim. Riu.

Eu achei que você fosse me explicar isso, que fosse passar a mão na
minha cabeça, dizer que pedia desculpas e que isso não aconteceria
mais, que foi um erro, mas o que você fez? Me esnobou. “Não nos
responsabilizamos por sapatos comprados há mais de três meses.” Como
assim, Arezzo? Eu tenho sapatos Topshop, Sommer, tenho até Melissas
guardadas há mais tempo do que guardei esse scarpin, e sapatos usados
muito mais vezes que esse scarpin e que não se desmancharam!

É por isso, Arezzo, que eu quero que você vá se danar.

Sabe o que eu fiz hoje? Eu comprei um scarpin seu. No Paraguai. Por R$
40,00. Ok, deve ter algum pequeno defeito, mas se é pra se desmanchar
mesmo, né? Que seja a preço de pano pintado.

Se é como lixo que você vai me tratar, então é assim que vai
funcionar. E prepare-se, porque eu vou espalhar essa história e ainda
contar para todas as pessoas que eu conheço que tem Arezzo no Paraguai
a preço de Moleca. Aliás, nem a minha Moleca se desmanchou como a
porcaria do seu scarpin.

Então, é isso. Passe bem com as suas vendedoras esnobes, suas
sapatrocidades cor de caneta marca-texto e seus sapatos de pano
mentirosos. A mim, você não engana mais.

Atenciosamente,"

Fabiane Ariello

Dobbiaco

"Quando olho para o meu passado, encontro uma mulher bem parecida comigo - por acaso, eu mesma - porém essa mulher sabia menos, conhecia menos lugares, menos emoções."

Martha Medeiros

Perder a viagem



"Você pede ao patrão para sair mais cedo do trabalho, pega um ônibus lotado, vai para um consultório médico que fica no centro da cidade, gasta seus trocados, seu tempo e seu humor, e, ao chegar, esbaforido e atrasado, descobre através da secretária que sua hora, na verdade, está marcada para semana que vem. Sinto muito, você perdeu a viagem.

Todo mundo já passou por uma situação assim, de estar no lugar errado e na hora errada por pura distração. Acontecendo só de vez em quando, tudo bem, vai pra conta dos vacilos comuns a qualquer mortal. O problema é quando você se sente perdendo a viagem todos os dias. Todinhos. É o caso daqueles que ainda não entenderam o que estão fazendo aqui.

Estão perdendo a viagem aqueles que não se comprometem com nada: nem com um ofício, nem com um relacionamento, nem com as próprias opiniões. Estão sempre flanando, flutuando, pousando em sentimento nenhum, brigando por idéia nenhuma, jamais se responsabilizando pelo que fazem, pois nada fazem. Respirar já lhes é tarefa árdua e suficiente. E os dias passam, e eles passam, e nada fica registrado, nada que valha a pena lembrar.

Estão perdendo a viagem aqueles que, em vez de tratarem de viver, ficam patrulhando a existência alheia, decretando o que é certo e errado para os outros, não tolerando formas de vida que não sejam padronizadas, gastando suas bocas com fofocas, seus olhos com voyeurismo, sem dedicar o mesmo empenho e tempo para si mesmo.

Estão perdendo a viagem aqueles preguiçosos que levam semanas até dar um telefonema, que levam meses até concluir a leitura de um livro, que levam anos até decidir procurar um amigo. Pessoas que acham tudo cansativo, que acreditam que tudo pode esperar, que todos lhe perdoarão a ausência e o descaso.

Estão perdendo a viagem aqueles que não sabem de onde vieram nem tentam descobrir. Que não sabem para onde ir e nem tentam encontrar um caminho. Aqueles para quem a televisão pode tranqüilamente substituir as emoções.

Estão perdendo a viagem aqueles que se entregam de mão beijada às garras do tédio."

Martha Medeiros

quarta-feira, 30 de março de 2011



"A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. É preciso recomeçar a viagem. Sempre."

José Saramago

segunda-feira, 28 de março de 2011

NEW YORK,NEW YORK- FRANK SINATRA




Comece a espalhar a notícia,
Estou partindo hoje.
Eu quero ser parte dela,
Nova Iorque, Nova Iorque.

Estes sapatos de vagabundo,
Estão desejando passear
Exatamente através do coração autêntico dela,
Nova Iorque, Nova Iorque

Eu quero acordar na cidade
Que nunca dorme,
E descobrir que sou o rei do pedaço,
O maioral.

Estes blues de pequenas cidades do interior
Estão longe do enternecimento.
Eu farei um novo recomeço nela,
Na velha Nova Iorque.

Se eu conseguir lá,
Eu farei em qualquer parte.
Só depende de você,
Nova Iorque, Nova Iorque.

Nova Iorque, Nova Iorque.
Eu quero acordar na cidade
Que nunca dorme,
E descobrir que sou o número um,
No topo da lista,
Rei do pedaço,
O número um.

Estes blues de pequenas cidades do interior
Todos estão longe do enternecimento