quarta-feira, 7 de julho de 2010

Convivendo com o ex



Um dos efeitos colaterais da nossa liberdade de escolha afetiva é a multiplicação dos ex em nossas vidas. Todo mundo tem um ex ou uma ex.

No passado, quando as pessoas namorava uma única pessoa antes do casamento e permaeciam casadas pela vida inteira, essa figura controversa não existia. Havia ex-presidiário, ex-banqueiro e ex-garota de programa... Mas ex-marido ou ex-mulher, isso era coisa rara.

Hoje em dia, conheço um monte de gente que está no segundo ou terceiro casamento. E a cada um deles corresponde o espectro de um ex...

Alguns são fantasmas bonzinhos, desses que moram quietinhos na memória e, de vez em quando, nos acenam do fundo de um bar. São benignos.

Outros vêem carregados de lembranças dolorosas. Só de avistá-los a pessoa se deprime.

E há o terceiro tipo, verdadeiro morto-vivo, que é o ex que acha que não acabou – e fica ali em volta, ciscando, ligando, mandando mensagens. Encontrá-lo é sempre uma emoção desagradável.

Eu acho isso tudo difícil de lidar, mas não vejo escapatória. Numa sociedade em que as pessoas namoram, se casam, e se relacionam, muitas vezes, é inevitável que andemos por aí esbarrando nos ex.

Claro, essas questões se colocam de forma aguda para quem acabou de se separar. Ou para quem ainda sofre com o ex. Ou para quem carrega divergências inconciliáveis com estes...

Nas separações normais, vivenciadas por pessoas normais, passado o tempo regulamentar e superados sentimentos vis, o ex-casal pode conviver perfeitamente. À distância... Podem encontrar-se socialmente, de quando em quando, e trocar palavras amenas. Nessas ocasiões, é que, nós mulheres, avaliamos discretamente a barriga, os cabelos embranquecidos e a papada dele, e concluímos que tudo piorou... Seres humanos são assim...

Novos cônjuges ou namorados também são objeto de inspeção criteriosa, física e existencial. A rede comum de amigos é empregada para desenterrar detalhes íntimos sobre o sucessor ou sucessora. Se for gente normal, deixa de ser assunto em poucas semanas. E a vida continua.

Eu prefiro pensar que há grandeza nisso. Acreditar na evolução. Uma sociedade em que as pessoas trocam, são trocadas e conseguem tocar a vida sem melodramas é, no mínimo, uma sociedade melhor.

Os conservadores, na sua abissal insegurança, tentam criar um mundo cercado de restrições, que os proteja da dor de serem trocados... e, até mesmo, da eventual dor de trocar...

Mas, na geografia em que vivemos, esse mundo não mais existe. Ele só pode ser recriado, no espaço da vida de um casal, através do controle e da servidão doentia. Ainda assim será precário e triste. Ao final, ilusório.

No mundo real, a fila anda, como disse uma vez o Fábio Júnior, depois da décima separação. Tenho a impressão, aliás, de que a nossa vida começa a se parecer com a vida dos artistas...

E há, ainda, a divulgação pública de tudo que nos acontece, pelas redes sociais. Mesmo o anônimo mais sem graça tem uma audiência, no Orkut ou no Facebook, com quem dividir seu último sucesso ou insucesso amoroso. Todos nós temos plateia e suspeito que, mesmo inconscientemente, atuamos para ela. Nós e nossos ex nos tornamos parte de uma novela que está o ar 24 horas por dia na internet.

Como eu já disse, não vejo muito remédio contra isso. Quem se relacionar no mundo moderno vai esbarrar nessa promiscuidade, ainda que não se engaje nela diretamente. Se o seu ex está na rede, um pedaço seu está lá.

Um jeito de evitar o pior talvez seja relacionar-se fora do meio profissional ou do grupo de amigos. Se algum dia a relação acabar, você não terá de ver sua ex-pessoa toda hora, nem ouvir a fofocas sobre o que ela faz ou deixa de fazer.

Porém, a dica mais útil, e infinitamente mais séria, é examinar com cuidado o caráter da mulher ou do homem a quem você vai se relacionar, especialmente se quiser ter filhos. Não há nada pior do que achar-se ligado pelo resto da vida a uma pessoa escrota.

Sabe, mesmo aquilo que é difícil torna-se é mais fácil quando se está tratando com gente de bem.

Em relação à figura do ex ou da ex, a grande advertência é que eles não vão desaparecer porque nos cansamos deles. As pessoas com quem a gente se relacionou de forma duradoura fazem de alguma forma parte da nossa vida. Ficam lá em algum formato de arquivo.

Se você tem um ex que está sempre ao redor, aceite isso. E cuide para que o seu novo parceiro ou parceira também aceite. Num mundo como o nosso, em que nada é permanente, a capacidade de lidar com o passado deve ser parte do teste de admissão.

Quem não sabe lidar com os seus próprios ex ou tem problemas com os ex dos outros não merece a vaga. Não está a altura da titularidade.

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Ellen Cristina