segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Era uma vez...

...um sapo que pertencia a uma sapa... ou seria uma sapa que pertencia ao sapo??? Não sei, não importa... O importante é que eles pertenciam um ao outro, um ao mundo do outro.

E, mais importante ainda, eles se conheciam profundamente, se entendiam na maior parte do tempo, e, mesmo que duvidassem, eram almas-gêmeas-batráquias.

O problema surgia quando o sapo cismava em se transformar em príncipe...Aí ele enlouquecia!!!

O sapo chegou até a matricular-se certa vez em uma escola preparatória para príncipes, esforçou-se muito, tentou ter hábitos refinados, falar com voz de príncipe para que pudesse conquistar princesas...

Aliás, ele sonhava um dia encontrar uma princesa que o beijasse e o transformasse em um príncipe para sempre, fazendo com que ele se desligasse do seu passado sapístico, abrindo-lhe assim a porta da felicidade plena eterna e absoluta.

Mas, ao apagar das luzes, na escola preparatória para príncipes, o sapo sentia-se só, sentia muita falta de coachar alto, dos hábitos nada refinados que podia compartilhar com a sua sapa, sentia falta do lodo do seu lago, de jogar a lingua para fora para capturar moscas distraídas...

Sua essência era sapística. Ele nasceu sapo, cresceu sapo, aprendeu coisas de sapo, e a sua companheira sapa não se importava que ele fosse um sapo... afinal de contas, ela também era uma sapa.

Mas... o sapo vivia assim, loucamente perdido entre o desejo de se transformar em príncipe e a saudade da vida de sapo. Transitando entre dois mundos tão distintintos, tão distantes...

Vivia cheio de dúvidas e questionamentos: existe felicidade eterna e absoluta??? Como seria minha vida sem os cuidados da minha rechonchuda sapa ??? Quem engraxaria meus sapatos ou lavaria as minhas cuecas sujas??? A minha sapa faz isso tão devotadamente... A vida longe da lagoa não é assim tão tranquila, há riscos, requer esforço.

Assim, sempre que a saudade da vida de sapo era muito forte o sapo voltava para a casa, e a sua sapa o recebia com seus braços gordos abertos em seu nicho coberto de limo, com mosquinhas frescas para o jantar.

Quando o sapo se cansava da lagoa lodenta e desejava imprimir um pouco de cor e sonhos à sua vida, voltava a nutrir seu desejo de ser príncipe.

A sapa, apesar de repulsiva e desleixada, era paciente e dedicada ao sapo e sempre esperava ansiosa que ele abandonasse os seus devaneios de realeza. E o sapo, por sua vez, apreciava a dedicação e o cuidado maternal da sapa para com suas nescessidades.

A verdade é que ao lado da sua sapa o seu mundo era mais seguro e confortável... e principalmente previsível.

Mas, como todos nós sabemos, nem sempre é possível transitar "ad eternum" entre dois mundos... E, assim sendo, o sapo foi excluído definitivamente da escola de príncipes e voltou para a sua lagoa e para os cuidados, maternais, da sua dedicada e zelosa sapa.

E assim viveram, como deveriam viver, para sempre...

Moral da história??? Ahhhh são muitas!!!

1º) Por mais que deseje, jamais poderá ter o melhor dos dois mundos;

2º)Nem sempre as histórias precisam ser de príncipes e princesas. Sapos também tem boas histórias;

3º) "E viveram felizes para sempre", simplesmente não cabe em histórias reais. As pessoas vivem como deveriam viver, no mundinho para o qual foram talhadas... E não há nada de errado nisso;

4º) A vida torna-se muito mais leve quando percebemos que não existem beijos mágicos, palavras de encantamento ou desencantamento... e que a chave da nossa felicidade está em nossas mãos;

5º) Se você tem essência de sapo, conforme-se: uma vez sapo, " forevermente" sapo;

6º) Para um sapo, por mais perfumado e acolhedor que seja o colo de uma princesa, o lugar mais seguro sempre será nos braços rechonchudos de uma sapa sem muitas ambições ou vaidades;

7º) Mais importante que ser sapo, sapa, príncipe ou princesa, é descobrir quem verdadeiramente somos.


Como bem disse Fernando Pessoa: "Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim".

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Ellen Cristina